
No excelente filme - dirigido por Darren Aronofsky e estrelado por Natalie Porter – essa solicitação dirigida para Nina foi a queda insuportável da bengala imaginária (auto-erótica) que sustentava a jovem bailarina psicótica e a permitia levar uma vida mais ou menos organizada. Sua saída sempre fora se situar no ideal de “boa menina”, de cisne branco.
Ao ser solicitada a provocar a emergência do cisne negro, Nina desencadeia seu encontro com o real não simbolizável e vê desabar sua identificação com o significante líder de sua existência: boa menina. Essa operação a leva ao surto psicótico, momento em que, em sensacional inversão, somos nós-mesmos, os espectadores, levados a não conseguir mais distinguir as fronteiras entre verdade e delírio. Deslizamos no delírio de Nina e assim passamos a entender a dor do surto psicótico.
Fora do discurso, a personagem mostra sua impossibilidade de transitar nos laços sociais, medir relações, equilibrar-se e se submeter ao jogo social. Alucinação, delírio e arte são tentativas de simbolizar aquilo que não consegue ser dito e sempre na linguagem referida ao corpo, sob os ideais maternos. Tentativas que se mostraram inúteis para restabelecer os vínculos rompidos e resgatar a estabilidade com que vinha conduzindo sua vida.
Na luta entre os cisnes, ao tentar romper com a "boa menina", o corpo se deforma e sua organização de vida se desvanece.
Não é à toa que é no espelho que se despedaçam os cisnes branco e negro, momento em que Nina se assume (totalmente identificada) o significante do ideal traçado pela direção do balé: o cisne negro.
Foi perfeito, diz ela.