quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Trarei à reflexão algumas ideias que destaco, entre comentadores de arte e psicanálise, acerca da articulação Dalí e Psicanálise. A primeira autora é Tania Rivera.

Dalí: mais além da realidade I.

Rivera[i] (p.20) analisa algumas passagens históricas dos comentários de Freud sobre Dalí.

Ela fala da perplexidade de Freud diante da arte moderna e, mais ainda, ele “faz troça” da associação entre a sua psicanálise e surrealistas. Observações feitas, após um encontro entre Freud, Stefan Zweig, Salvador Dalí, Gala e o milionário Edward James, ao saber que os surrealistas o tinham adotado como “santo padroeiro”.

Freud chama-os de loucos (ou “loucos a 95%, como se diz no álcool), mas o jovem artista espanhol (Dalí) o teria feito mudar de ideia, “com seus olhos cândidos e fanáticos”. Freud admite que seria interessante examinar de um ponto de vista psicanalítico a realização de um quadro como aquele.

O quadro era Metamorfose de Narciso.

MaterialTinta a óleo
PeríodoSurrealismo
Criação1937

“O quadro faz o contemplador participar ativamente do processo de transformação: diante dos seus olhos Narciso, recurvado sobre o espelho d’água, pertrifica-se numa forma de mão que segura um ovo, de onde irrompe a flor narciso. Imagens duplas se auto-engendram, partilham os mesmos contornos, são intercambiáveis, de tal maneira que o contemplador vê o quadro se metamorfosear diante dele” (Rivera, p.24)


Sentencia Freud, diante daquela obra, que “nas pinturas clássicas, procurava o inconsciente – em uma pintura surrealista, o consciente”.

E Rivera (p.21) conta que, mesmo despertando o interesse de Freud por sua genialidade, foi um veredicto para Dalí que significou a sentença de morte do surrealismo.





[i] Rivera, Tania. Arte e Psicanálise. Jorge Zahar Editor. 2ed. Rio de Janeiro, 2005.

sexta-feira, 7 de março de 2014

Mulher-Lua

Volto hoje a escrever no meu amado blog, inspirada pelo dia internacional da mulher, ilustrando com essas mulheres admiráveis: Cecília e Tarsila.

Tenho fases, como a lua 
Fases de andar escondida, 
fases de vir para a rua... 
Perdição da minha vida! 
Perdição da vida minha! 
Tenho fases de ser tua, 
tenho outras de ser sozinha. 
(Lua Adversa - Cecília Meireles)

Mulher de fases, mulher-fases, mulher-lua.

Quando alguém se aproxima de uma fase, lá vem outra complicar.

Não é proposital, não é do mal, é simples como uma nota musical.

Ora aqui, ora ali, construindo melodias, tecendo amores, protegendo escapes secretos, por onde se esvai e se reconstrói.

A mulher busca as palavras de amor no Outro, pois delas faz seu tecido e se recobre de gozo.

Palavras de amor vão e vêm.

E do fantasma do abandono, ela alça novo vôo, novas descobertas no profundo mergulho que faz em si, voltando a ser seu centro, para se saber tão valiosa, seja em dor ou em encanto.


Para que saber o que querem? Apenas as deixem ser como a lua.