Moderna e arrojada era a conduta dos impressionistas para sedimentar novos olhares à sociedade ainda tão fechada. Artistas instruídos, profundamente estudiosos nas
técnicas e movimentos que os antecederam, romperam com as poéticas passadas e
abriram-se à experiência do ar livre, libertando-se da solidão dos ateliês em busca hábitos
e valores das classes menos abastadas que não frequentavam os salões de arte.
Monet, Renoir, Degas, Cézanne, entre outros, foram
reunidos num movimento que tomou o desafiante e criticado quadro de Degas: Impression, soleil levante (1872, imagem). O impressionismo foi uma
investigação sobre as possibilidades técnicas, cientifizando cores e temas do
mundo moderno, predominantemente trabalhadas às margens do Sena. Ignora-se
claro-escuro e não há distinção entre positivo e negativo, ou luz e sombra, há
efetivamente manchas que se justapõem , em firmes e significativas pinceladas.
A pergunta que não quer calar é: por que mais de meio
milhão de pessoas, cidadãos comuns como os retratados pelos impressionistas,
aguardaram horas (chegando a 8 horas) nas filas ziguezagueantes pelos entornos
do CCBB para fruírem desse acervo?
Podemos chamar de sedução a força que a arte exerce sobre
nós? Neste caso, espectadores desfalecidos pela pulsão escópica,
registram a obra de arte como puro objeto de desejo, simbolizado na
felicidade da ilusão de ver-se vendo.
Por outro lado, estaríamos consumindo em massa, mais um
gadjet produzido por outra força – a do capitalismo – tão perfeitamente
articulado no discurso da histeria?
Não vamos negar a perplexidade que amantes da arte
foram tomados ao perceberem tal acolhida da população. Nesse caso, o público brilhou e dividiu o protagonismo do evento. Que sirva de
estímulo para novas iniciativas.