quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tarsila do Amaral e a Negra.

Embora transitando nos salões mais selecionados europeus e brasileiros, mergulhada em fama e sucesso, a sofisticada Tarsila de Paris busca a simplicidade quase tosca das cenas de infância. Distante dos momentos da fazenda, eles estavam presentes no seu mundo imaginário, transportado para a tela, criando uma de suas mais emocionantes obras, precursora da obra antropofágica: a negra.
Minha força vem da lembrança da infância na fazenda, de correr e subir em árvores. E das histórias fantásticas que as empregadas negras me contavam. (Tarsila do Amaral)
A Negra diz sobre as questões da sua infância.
Surge avassaladora, com o signo da deformação, da exacerbação de formas, e vem anunciar os elementos étnicos, a cor de sua terra, sutilmente adornada pela folha de bananeira. Os lábios carnudos e o seio alongado são destaques em primeiro plano, forte impressão que remonta à escrava que amamenta os filhos nas costas, relatado por Tarsila como uma das visões que mais a impressionavam na infância: os seios da ama-de-leite mamã-Balbina.
Modificações corporais apresentam membros superdimensionados unidos a uma atitude de imobilidade, que serão sempre relacionados aos personagens brasileiros da artista, entre os quais, a Negra ocupa o lugar de melancólica sensualidade.
Tarsila, anos depois, refere-se à Negra como prenúncio da fase antropofágica que se seguiria.
Descreve sua própria tela:
Figura sentada com dois robustos toros de pernas cruzadas, uma arroba de seio pesando sobre o braço, lábios enormes, pendentes, cabeça proporcionalmente pequena (Tarsila do Amaral).
Argan (1992) sugere que o pintor não escolhe suas cores segundo um critério de verossimilhança, mas de extrema liberdade na qual atribui um juízo, uma postura moral, afetiva, em relação ao objeto, como se apresenta à sua percepção, inclusive com a deformação ou distorção, por vezes agressiva e ofensiva, que não é ótica: é determinada por fatores subjetivos e objetivos.
Revela Tarsila nesse momento (1923) em Paris, onde produz a tela:
Sinto-me cada vez mais brasileira: quero ser a pintora da minha terra. Como agradeço por ter passado na fazenda a minha infância toda. As reminiscências desse tempo vão se tornando preciosas para mim. Quero, na arte, ser a caipirinha de São Bernardo, brincando com bonecas de mato, como no último quadro que estou pintando (Tarsila do Amaral).
A função do belo nos abre os olhos e talvez nos acomode quanto ao desejo, dado que ele mesmo está ligado a uma estrutura de engodo (Lacan, 1960).
Lacan contrapõe à experiência do belo, a implacabilidade do sublime, no qual não se dá a contemplação agradável e, sim, a experiência de uma dilaceração. Está ligado a uma pungente revelação, a tal dignidade da Coisa não é apaziguadora, mas nos joga na cara nossa frágil e violenta condição humana (Rivera, 2008).

Referência das falas de Tarsila:
AMARAL, Aracy. Tarsila: sua obra e seu tempo. São Paulo: Ed.34; EDUSP, 2003.

domingo, 28 de novembro de 2010

CIDADE MARAVILHOSA

[Corcovado/Pão de Açúcar RJ, 2007 - Acrílico sobre tela - Atelier Alberto Saraiva]
Cidade Maravilhosa, cheia de encantos mil, vai permanecer maravilhosa e coração do Brasil.
O Rio volta a ter Estado, restabelecendo a função paterna, devolvendo a operatividade da Lei. Será que finalmente acabou a submissão aos “pais da horda”, àqueles a quem tudo era permitido, que simbolizavam em suas comunidades a falência da castração?
Diante de sua fuga desesperada foram recolocados no lugar-comum: impotência .
Resta-nos apoiar e torcer para que não seja um momento, mas um novo estado.

domingo, 10 de outubro de 2010

Muitos personagens trágicos nas novelas atuais.


[Quadro: Angústia, Salvador Dali]
Hoje, no Globo, falava-se sobre a busca dos autores pela tragédia nas novelas. Elas são fundamentais e proporcionam dor e alívio ao espectador. Desde a Grécia, elas trazem alívio ao sofrimento humano, por mais paradoxal que possa parecer. A tragédia, na palavra de Lacan, se encontra na raiz da experiência analítica como testemunha sua palavra chave, a palavra pivô, catarse, a catharsis aristotélica. Para os males humanos, Freud (1906) determina apenas um desejo: sarar, livrar-se de seu estado. O remédio é eliminar a inibição por meio do jogo da fantasia. A catarse visa à descarga, descarga em ato, ou até mesmo descarga motora, de uma emoção, um traumatismo capaz de deixar o sujeito em suspenso, e isso enquanto um acordo não for encontrado. Assim, a meta da tragédia é, no texto lacaniano, a catarse, a purgação das pathemata (aflições do corpo e da alma), das paixões, do temor e da piedade. Freud reserva, no texto Personagens psicopáticos no palco , ao espectador do jogo dramático, ainda que adulto, o lugar de criança ao brincar, gratificando suas expectativas hesitantes de se igualar aos adultos. Cabe ao autor e ao ator introduzir o brinquedo ao assegurar a identificação do espectador com o herói da peça. O espectador pode vivenciar sua fantasia de um herói, mas sem riscos, dores, sofrimentos e graves tribulações, através da vida idealizada, teatralizada no palco. Os espectadores avalizam o autor da peça teatral, juntamente com os atores, a desfilar no palco seus dramas, suas dores, emoções e traumas, percebidos nessa circunstância como pura fruição de prazer. Mesmo aqueles a que tanto o sujeito resiste cotidianamente, ali, sob os holofotes, torna-se diversão. Como podem esses seres mágicos saberem tanto sobre os processo mentais da sociedade? É o Mal Estar freudiano fartamente consumido no banquete dos deuses, e deuses são autores e atores.

domingo, 11 de julho de 2010

O sorriso de Mona Lisa



Escolhi falar sobre esse filme por uma razão muito especial: ele me comove pela forma como nos conduz a compreender a arte como ferramenta de mudança na vida dessas mulheres, para derrubar verdades cristalizadas da educação dos anos 50.
Naquela sociedade puritana e conservadora, grandes fortunas estavam sendo forjadas. Havia grande expansão econômica com as novas indústrias transformadas pelo fim da guerra, proporcionando grande conforto. Queriam expandir seu modo de vida idealizado na perfeição, dimensionando o planeta como seu espaço de comando. Haviam saído da guerra da Coréia e caminhavam para o enfrentamento no Vietnam.
Tanto Sigmund Freud (1856-1939), como Jacques Lacan (1901-1980), olharam com profundo interesse para as artes e delas retiraram elementos importantes sobre os processos mentais. Organizar é a característica da arte para Lacan (1960). É o saber fazer (savoir faire) com o real. E esses movimentos levam os artistas a trabalhar em torno de denúncias de seu tempo.
Ali estava a arte, em sua vanguarda significante, denunciando por meio de Jackson Pollock (1912-1956) as contradições de um sistema que estava longe de ser ideal. Era a action painting (pintura ação ou expressionismo abstrato) que desagregava a imagem para extrair sensações imediatas e concretas. Usava o dripping (gotejamento) e pintava dentro da tela para dela participar. Dizia ele que, antes da ação não havia nada. Reivindicava a liberdade em relação à lógica, preparação para o imprevisto, liberdade para encontrar seu própio ritmo. Juntamente com o jazz – música sem projeto, dissonante, que se compõe enquanto é tocada, buscaram romper os esquemas estéticos tradicionais. Foi o tempo que Faulkner chamou de som e fúria. Explicitaram o dilema da sociedade americana, orgulhosa de sua ordem e produtividade de belas formas de automóveis e eletrodomésticos.
A arte, no delicado roteiro do filme, interveio na questão do feminino, na entrega dolorosa do ser para o Outro. No filme, a mulheres se identificam ao um objeto da cadeia significante dos gadjets masculinos. A maior realização daquelas mulheres fica diretamente relacionada à capacidade de servir ao marido. Muitas delas, devastadas, desagregadas das saídas possíveis às suas vidas, foram iluminadas pela abertura da mente proporcionada pelo encontro com as aulas de história da arte.
No filme, chamam a atenção duas mulheres que têm destinos diferentes: a mais reacionária tem suas certezas abaladas busca seguir um novo caminho e rompe com a família em prol de seu desejo; a mais promissora, uma possível profissional de sucesso, escolhe ser uma tradicional dona-de-casa. O que diferencia essas duas? A possibilidade de escolha, de decisão sobre o seu caminho, e não simplesmente repetir.
Entretanto, no que concerne a amar, todas são laçadas pela rede. Amar é verbo feminino. As palavras tocam a fantasia feminina na eterna busca do tesouro maior: o desejo.

Futebol contemporâneo.


“Antes da pintura, o futebol já tinha marcado minha vida. Como no futebol, acho que na arte deve-se fazer coisas espontâneas, com a marca do amor e entusiasmo, para poder se emocionar e emocionar outras pessoas. Como no futebol, acho que na arte deve-se fazer coisas espontâneas, com a marca do amor e entusiasmo.” Palavras de Rebolo, autor do quadro que ilustra esse comentário.

Será que é esse entendimento do futebol de hoje?

O futebol, para Hobsbawn, carrega hoje o conflito da globalização, suportanto de maneira paradoxal , talvez como nenhuma outra instância, a dialética entre as entidades transnacionais, seus empreendimentos globais e a fidelidade local dos torcedores.

Winik entende que se consegue depauperar os campeonatos locais, antes representantes de uma forte demanda pela representativade nacional, que agora perdem a sua cara.

As empresas futebolísticas compram e vendem seus produtos-jogadores, levando a uma homogeneização dos times e à descaracterização das individualidades, todos submetidos a ordenamentos sem fronteiras.

Fortunas e poder são reservados aos mitos que adentram esse Olimpo contemporâneo, sob uma exigência única: produzir gols e vencer campeonatos. São instados a sustentar seus títulos imperiais, por meio de uma imagem atlética, nem sempre compatível com sua vida pessoal, construída na mídia e alimentada em prol da valorização do passe.

Fico preocupada com a geração cada vez mais numerosa de brunos, vagnerloves, ronaldos, adrianos (escândalos mais recentes). Fico extremamente preocupada com pais que temem conversar com seus filhos sobre os ídolos, ignorando os riscos da idolatria, por não poderem oferecer outros exemplos mais consistentes. Fico preocupada com os clubes que ignoram as necessidades individuais de seus atletas que “surtam” diariamente por não suportarem esse lugar que a eles é reservado.

Só a espontaneidade, como disse Rebolo, trilha o caminho do amor e do entusiasmo.

sábado, 19 de junho de 2010

Por que será que o deus do amor é uma criança?


Imagina-se o amor como um afeto completo, onde os corpos e as mentes se entrelaçam e transformam os amantes em um par uníssono, perfeito. Os contos de fadas perseguem, mesmo hoje, até os mais experientes. Fora desse ideal, a relação adquire outros nomes, de menor dignidade na hierarquia do desejo, como paixão, tesão etc. Permanecer nesse limbo fica menos pesado do que abrir as portas ao amor e arcar com o seu preço. Talvez por isso haja tanto medo de vivenciar o amor.
A responsabilidade atribuída ao amor leva à impossibilidade de ser auto-sustentável.
Amor é parte de uma relação entre duas pessoas. E uma relação admite múltiplos sentimentos em sua sinuosa trajetória. Alguns indesejáveis comparecem na relação a dois: ódio, rancor, inveja, ciúmes. Precisam ser admitidos e compreendidos para viabilizarem o dia a dia. O evitamento de vivenciá-los somente amplia seu peso e traz culpa, esse mal que fica debaixo do tapete. Perceber defeitos e imperfeições, cometer erros, não é deixar de amar.
A busca da perfeição afasta o amor, mas a presença do desejo é a divisa do terreno do amor. Amor é imperfeição.
Por outro lado, nessa lógica, esconder o fracasso amoroso, o des-amor, permanecer numa relação que não traz mais prazer, é condenar a si e ao parceiro a uma prisão domiciliar. Muitas culpas são pagas com essa penalização.
Eros brinca com suas flechadas e nós, muitas vezes, brincamos de amar.
Imagem (Jovem defendendo-se de Eros - Bouguereau: 1825–1905)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

As mulheres de Freud





Resenha por Maria Elizabeth Bonow

Livro: As Mulheres de Freud
Título original: Freud’s Women
Autores: Lisa Apignanesi e John Forrester
Tradução para o português: Nana Vaz de Castro e Sofia Maria de Sousa Silva

O instigante título do livro não decepciona aos leitores, ao consolidar, numa deliciosa linguagem limítrofe entre o romance e a psicanálise, um texto contundente sobre as mulheres que aparecem envolvidas na biografia pessoal e profissional do pai da psicanálise: Sigmund Freud.

A experiente autora Lisa Apignanesi é romancista, escritora e resenhista, ex-professora universitária e diretora do London Institute of Contemporary Arts. Seu parceiro de autoria é John Forrester, emérito professor de história e filosofia da Universidade de Cambridge, especializado na biografia de Freud e autor de diversas obras ligadas à psicanálise.

A maior diferença desse texto é sua perspectiva que, diferentemente de famosas biografias de Freud, como as de Peter Gay e Ernest Jones, é tomada a partir das mulheres que povoaram a sua vida. Elas são indubitavelmente as protagonistas da obra: “as famosas histéricas do fim do século XIX, natural e historicamente destinadas a ser suas parceiras de criação da psicanálise”.

Os autores prospectaram em fontes diversas - biografias dos autores citados, correspondências das mulheres a Freud e a outros personagens envolvidos, entrevistas com familiares, Museu de Londres, teses publicadas, relatos dos amigos e profissionais relacionados, entre outras – que lhes permitiram erigir uma sólida versão da reconstituição de suas vidas e sua importante participação no estabelecimento das descobertas sobre o inconsciente, a sexualidade e o feminino.

Inicialmente aparecem as histórias relativas às figuras mais remotas, como sua adorada matriarca Amalie, irmãs e babás sedutoras, que vivenciam experiências familiares relevantes, especialmente as “formadoras na infância” do menino Sigismund, capazes de corporificar sua posterior autoanálise dos primeiros anos.

Na medida do tempo, desfilam paixões como Gisela Fluss e a sobrinha Pauline, até seu arrebatado pedido de casamento à Martha Bernays, escolhida segundo o padrão da mãe, constituindo por 53 anos um “mundo de felicidade”. Também entra em cena a forte presença da cunhada Minna Bernays, confidente mais próxima e de língua afiada, assim como as difíceis vidas da filhas Sophie, Mathilde e Anna, educadas por “um pai judeu afetuoso, severo e carinhoso, por vezes distante e alheio”, como se autointitulou o próprio Freud. Anna tornou-se a preferida e a herdeira da psicanálise, permanecendo ao lado do pai até o fim, quando a ela Freud pede autorização para tomar a injeção que acabaria com o sofrimento do câncer que o consumira.

As vidas, anteriores e posteriores aos tratamentos analíticos, das pacientes e amigas Anna O., Cäcilie M., Emmy Von N., Katharina, Elizabeth Von R., Lucy R., Dora são investigadas e reconstruídas pela incansável pesquisa de tantas fontes, capazes de preencher os espaços deixados pelos fragmentos dos relatos de Freud e saciar a curiosidade dos leitores.

O texto percorre as comoventes biografias e contribuições de Sabina Spielrein, Löe Kann, Lou Andréas-Salomé, mulheres preciosas à causa psicanalítica, além de Helene Deutsch, Marie Bonaparte, Joan Riviere, Alix Strachey. Cada qual é homenageada pelos substanciais elementos que permitiram o aprofundamento sobre o saber feminino, muitas delas dedicando a Freud um amor filial e seguindo os passos do mestre.

O livro é aberto e concluído com o debate sobre a mulher, enfrentado por Freud, diante do movimento feminista. A polêmica esteve sempre presente na psicanálise e era inerente às apresentações das teses de Freud, especialmente no que concernia à sexualidade feminina.

As mulheres de Freud são ‘uma a uma’ relacionadas cronologicamente e alinhadas às descobertas psicanalíticas, num trabalho minucioso e ousado. É uma leitura obrigatória para psicanalistas e biógrafos, assim como altamente recomendada aos interessados pelas questões do feminino e das personalidades que marcaram a história da humanidade.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

O que quer uma mulher?


O que quer uma mulher?
Perguntou Freud, Lacan, indaga Chico Buarque e tantos homens perplexos com elas .
Essa falta estranha e provocadora de saber das mulheres suscita nos homens a necessidade de recobri-las de significantes (tão preciosos a elas).
Elas amam que eles delas falem.
São jóias, músicas, viagens e quantos mais gadjets eles possam pensar para identificá-las.
São metáforas do desejo masculino, portos mais seguros para que possam se ancorar.
Delas não obtêm mais do que a própria falta: o ser feminino.
Iolandas, Carolinas, Januárias, Lígias, Teresinhas, Sílvias, Ritas, Renatas, Madalenas, Lolas, Luizas, Genis e Marias.
A mascarada feminina é capaz de ser todas elas: filha, amante,mãe, prostituta, executiva, mártir.
Tantas e nenhuma.
A verdadeira não tem nome nem lugar.
Surge, emerge de si mesma.
As mulheres intrigam Chico Buarque, enganam, o confundem, como confessa: "o olhar de uma mulher faz pouco até de Deus, mas não engana uma outra mulher".

Clique e veja a entrevista de Chico Buarque de Holanda:

http://www.youtube.com/watch?v=BwBbLBU6Im4&NR=1

domingo, 4 de abril de 2010


Amor e feminino

Toda formulação sobre a sexualidade feminina há de começar pela falta, daí a situação privilegiada do amor no psiquismo da mulher, como uma suplência.
O amor procura cercar o ser do Outro, mas nunca atinge a essa finalidade. Chega apenas a um semblante de ser. A imagem do Outro recobre esse falta.
O amor pede o amor, entretanto, no feminino, exige mais... mais ainda.
E qual a fonte para dar esse amor tão demandado pela mulher?
Como pode o homem suprir essa demanda permanente e insaciável?
Não, não sacia nunca. Mas apazigua com a palavra.
A palavra de amor.
O que ela deseja é que ele fale, seduza, deixe-a gozar no mundo que se abre com o dito de amor.
Na clínica, o sofrimento maior é das palavras que se calaram.
Das que ficaram presas no gozo masculino.
O amor é feminino.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Comentário de Marli Bastos, Psicanalista, sobre o livro Momentos Pares, Momentos Ímpares.

Beth Bonow, nos brinda com um romance que prende o leitor do início ao final de seu escrito. Aliás, já somos capturados pela belíssima capa, um belo sapato vermelho nos convida para uma caminhada elegantemente ornada por pérolas negras.
Momentos pares, momentos ímpares, nos transporta para momentos vivenciados por uma mulher em sua enlouquecida busca de amor. Ah... trago uma rosa, para lhe dar... A trama acontece no Rio de Janeiro na década de 70 e é muito bem pinçada em vários momentos históricos da nossa cultura quanto na vida do personagem principal – Isa-a-bela representada melodiosamente em várias facetas de sua vida, nos conduz da sua adolescência a vida adulta em sua busca incessante de um amor irreal porque idealizado.
Enfim, é um romance que eu recomendo pela sua poesia e por nos remeter a uma década tão fértil e de certa forma tão inocente de nossa história.

terça-feira, 9 de março de 2010

Momentos Pares, Momentos Ímpares


Escrevi este livro por puro prazer.
O gosto doce de lembrar de um Rio de Janeiro que já se foi no tempo.
O perfume de amores que inventei e que passei.
O desfrutar da brincadeira com as palavras.
O riso interior de mexer em vespeiros.
Até a dor se fez prazer e saiu para sorrir.
Zepelin, Anick Bobó, Tan o Ton, Luna's.
Tanta coisa boa de se lembrar que nem cabe num livro só.

Momento pares, momentos ímpares.
Vejam o que vocês acham e comentem comigo.
Podem alugar ou comprar um exemplar (entregue na sua casa) no site:
www.biblioteca24x7.com.br

O chiste de Woody Allen.


O intelectual judeu da modernidade teve que buscar trabalho fora do gueto, num espaço em que os critérios de aceitação e consideração eram bem diversos, submetidos a um esforço bem maior em prol da ascensão social, participando da estrutura competitiva num confronto inevitável. Freud, Einstein, entre tantos brilhantes judeus tiveram que superar esta barreira, uma resistência que, no dizer de Freud, era preciso encarar como vantagem (FUCHS, 2000).
Não foi diferente para Allen nos anos pós-guerra. Desprovido de dotes físicos, e muito tímido, ele se tornou o mais severo crítico de si mesmo e das condições difíceis que se impunham ao seu caminho. Com sua inteligência fina e peculiar, na trilha sublimatória da arte, edifica com sua espirituosidade, a ponte para ultrapassar a timidez e desvantagens, e estabelecer seus laços sociais. As tiradas espirituosas que ele construía sobre aquela realidade eram capazes de fazê-lo comunicar-se agradavelmente com outras pessoas, ainda que as criticando e às suas vidas. Descobria ele a técnica da tirada espirituosa. Explica Allen a virada que lhe permitiu chegar ao sucesso: “eu era judeu, mas depois me converti ao narcisismo”.
O Witz, na tradução para o português da obra de Freud da Imago, é o chiste; em francês adotou-se mot d'esprit. Na tradução do Seminário de Lacan, o Witz é a tirada espirituosa. O chiste não é uma palavra comum na língua portuguesa, mas todos sabemos o que é uma tirada espirituosa, ainda que não tivéssemos lido Freud.
Espírito, para Aurélio Buarque de Holanda tem significados diversos na língua portuguesa: a parte incorpórea, inteligente ou sensível do ser humano; o pensamento; a mente; inteligência fina, brilhante; idéia predominante; significação, sentido; capacidade de captar o cômico, o divertido, o ridículo; graça, humor; ironia.
É nesse caminho que nos conduziu Freud, e depois Lacan, para melhor compreendermos a importância do Witz. Uma das primeiras menções de Freud sobre o Witz data de 1899 (volume III), em Recordações Encobridoras. Logo a seguir, em 1905, Freud publica O chiste e sua relação com o inconsciente, mergulhando seu estudo num tema privilegiado por Lacan, quando escolhido para a abertura de seu seminário de 6 de novembro de 1957 (livro 11), ao qual se refere como: “a mais brilhante forma com que o próprio Freud nos aponta as relações com o inconsciente”.

O Caminho da Psicanálise: quebrando a casca de seu ovo.


Um ato de generosidade do sujeito para consigo mesmo.
Se existe o sofrimento, por que não buscar formas de reduzi-lo?
Quem melhor do que o próprio sujeito para tomar a direção de sua vida, saindo do banco do carona? Quebrando a casca de seu ovo?
Quem melhor que ele para conduzir suas ações em prol dos resultados desejados?
Quem melhor do que o sujeito para escolher o caminho e separa-se de velhos jargões que fantasmaticamente se alojam na vida e a recobrem?
Quem é mais apto a prospectar seus desejos, compreendendo que até obtê-los há problemas e erros?
Não está na hora de se responsabilizar pela própria vida e não mais entregá-la aos outros, a quem se dá tantos nomes, como: amor, Deus, pai/mãe, destino, azar etc?
Todos somente se alojam no espaço do sujeito, quando convidados a entrar.
E o papel que assumimem em sua vida ele-mesmo designa.

terça-feira, 2 de março de 2010

Novas síndromes que invadiram nosso pedaço.


Síndrome do pânico, depressão, angústia, TOC, bipolaridade.
O corpo é algo que é feito para gozar a si mesmo.
O primeiro sintoma de angústia anuncia que algo pode acontecer, uma invasão do real no imaginário que escapa à simbolização, à linguagem. Surgem as doenças que vão escrever, de sua forma enigmática, a história do sujeito.
O corpo da psicanálise é diverso do corpo da biologia, porque é atravessado pela linguagem, estabelecendo um diálogo profundo entre biologia (corpo) e psiquismo. Um e outro estão totalmente ligados e interagem desde sempre.
É o corpo pulsional. É um corpo que fala.
Se não colocamos em palavras o mal-estar, a doença se inscreve no corpo, como uma via de acesso ao que não é simbolizável.
As novas síndromes são doenças que a globalização oferece, com seus imaginativos nomes e velhos formatos.Onde estavam há anos atrás? Mudamos tanto?
Não. Elas ressurgem atualizadas pela mídia, pelas bulas que descrevem sintomas, pelo doloroso teatro das novas-histéricas.
O remédio, amplamente veiculado pela indústria capitalista, traz no rótulo o nome da felicidade, a nomeação da ilusão de cura, de que tudo é somente biológico.

Arte Moderna


Ela se diferencia por convocar o espectador à incômoda invasão ao interior do artista, desconhecido e imprevisível, que não é dado facilmente e exige um esforço a mais.
A realidade não é fotografada pelo discurso do belo e conduz à recriação estética.
O mistério de Cézzane e suas maçãs, a repetição do tema, aprimorando sua relação com o real, aponta para a permanente renovação guiada pela fantasia.
Revela Tarsila do Amaral sobre o Abaporu (1928): " segui apenas uma inspiração sem nuca prever meus resultados. Uma figura solitária, monstruosa, pés imensos, sentada numa planície verde, o braço pousado repousando no joelho, a mão sustentando o peso-pena da cabecinha minúscula. Em frente, um cacto explodindo numa flor absurda. Sugeria a criatura fatalizada, presa à terra, com seus enormes e pesados pés".
É isso que você vê? Horror, beleza?
O gigantismo, as cores, a deformação, prá onde transportam você?
Essa é a brincadeira do quadro. O mesmo transporte que leva cada qual a um diferente destino.