domingo, 22 de janeiro de 2012

Meia-noite em Paris

Meia noite em Paris foi a autorização que Allen se deu para alucinar a mais deliciosa aventura intelectual possível: encontrar com ídolos da arte do passado e com eles tecer um presente mais seguro.
A atemporalidade é a magia que permite o artista (escritor) passear entre aqueles que marcaram sua estética e, acima de tudo, ouvir sua opinião sobre temas sedutores à sua obra.

Como ultrapassar e viver a plenitude do tempo atual, sem ficar se reportando ao passado? Como permitir surpreender-se com o novo, sem entendê-lo como ameaçador? Como voltar ao passado e dele sugar memórias enriquecedoras, sem fixar-se na melancolia?
Não é saudosismo, nem modernidade, é simplesmente compreender o artista como deslocado de tempo, sempre atual e pleno de mensagens, seja de que época for.
Poderia ser assim em nossas vidas.

Sentimos o incômodo por depender de tantas inovações tecnológicas; em lidar com valores sociais mudados e diferentes das certezas responsáveis por limites construídos ao longo da vida. Tudo parecia mais claro antes. Tudo era mais próximo das leis passadas pelos pais, portanto mais palatáveis e sem muitas perguntas. Repetimos as vantagens do que chamamos de “no meu tempo”. Esses limites, fixados imaginariamente, passaram a indicar a zona de conforto, a recortar as fronteiras de nossas existências, aparentemente intransponíveis. Daí, o medo, a ansiedade, a estranheza de caminhar e escorregar fora da linha. Temos o horror imaginário, deliberadamente criado por se dimensionar os riscos de sair desse território seguro e conhecido: até hoje fui assim, agora está tarde para mudar.

Por outro lado, a forma de obsoletismo com que tratamos o que se foi no tempo não permite usar essa experiência tão rica para abrir oportunidades. Os milênios que nos antecedem são pródigos em modelos e metáforas para a vida de hoje.
Bem-aventurados os artistas que antecedem o comportamento social e privilegiam seu passado para abrir novos caminhos.

Como o inconsciente, a arte é atemporal.