terça-feira, 1 de março de 2011

Buscar o cisne negro dentro de si.

No excelente filme - dirigido por Darren Aronofsky e estrelado por Natalie Porter – essa solicitação dirigida para Nina foi a queda insuportável da bengala imaginária (auto-erótica) que sustentava a jovem bailarina psicótica e a permitia levar uma vida mais ou menos organizada. Sua saída sempre fora se situar no ideal de “boa menina”, de cisne branco.

Ao ser solicitada a provocar a emergência do cisne negro, Nina desencadeia seu encontro com o real não simbolizável e vê desabar sua identificação com o significante líder de sua existência: boa menina. Essa operação a leva ao surto psicótico, momento em que, em sensacional inversão, somos nós-mesmos, os espectadores, levados a não conseguir mais distinguir as fronteiras entre verdade e delírio. Deslizamos no delírio de Nina e assim passamos a entender a dor do surto psicótico.
Fora do discurso, a personagem mostra sua impossibilidade de transitar nos laços sociais, medir relações, equilibrar-se e se submeter ao jogo social. Alucinação, delírio e arte são tentativas de simbolizar aquilo que não consegue ser dito e sempre na linguagem referida ao corpo, sob os ideais maternos. Tentativas que se mostraram inúteis para restabelecer os vínculos rompidos e resgatar a estabilidade com que vinha conduzindo sua vida.
Na luta entre os cisnes, ao tentar romper com a "boa menina",  o corpo se deforma e sua organização de vida se desvanece.
Não é à toa que é no espelho que se despedaçam os cisnes branco e negro, momento em que Nina se assume (totalmente identificada) o significante do ideal traçado pela direção do balé: o cisne negro.
Foi perfeito, diz ela.

3 comentários:

  1. Adorei sua leitura. Deu vontade de ler mais. Tambpem precisei escrever sobre o filme http://significantess.blogspot.com/2011/02/black-swan-cisne-negro.html

    ResponderExcluir
  2. Belíssima escrita sobre suas impressões do filme.
    Eu, porém, fiquei tentada entre o delírio psicótico e a fantasia neurótica. São sutilezas que a própria clínica nos impõe, não é?!
    Mas, uma coisa é certa: é um belíssimo filme e é uma maravilha poder contar com comentários como o seu.
    Parabéns pelo blog.
    Abraço.

    ResponderExcluir
  3. Obrigada pelo gentis comentários. Nossa clínica se assenta na ética e, dentro dela, não há diagnóstico sem base transferencial. Somente nessa incrível relação dual que se pode concluí-lo.Portanto, foi uma licença poética rsrsrs.
    Fico honrada com suas palavras, bjs.
    Beth Bonow

    ResponderExcluir