domingo, 11 de julho de 2010

O sorriso de Mona Lisa



Escolhi falar sobre esse filme por uma razão muito especial: ele me comove pela forma como nos conduz a compreender a arte como ferramenta de mudança na vida dessas mulheres, para derrubar verdades cristalizadas da educação dos anos 50.
Naquela sociedade puritana e conservadora, grandes fortunas estavam sendo forjadas. Havia grande expansão econômica com as novas indústrias transformadas pelo fim da guerra, proporcionando grande conforto. Queriam expandir seu modo de vida idealizado na perfeição, dimensionando o planeta como seu espaço de comando. Haviam saído da guerra da Coréia e caminhavam para o enfrentamento no Vietnam.
Tanto Sigmund Freud (1856-1939), como Jacques Lacan (1901-1980), olharam com profundo interesse para as artes e delas retiraram elementos importantes sobre os processos mentais. Organizar é a característica da arte para Lacan (1960). É o saber fazer (savoir faire) com o real. E esses movimentos levam os artistas a trabalhar em torno de denúncias de seu tempo.
Ali estava a arte, em sua vanguarda significante, denunciando por meio de Jackson Pollock (1912-1956) as contradições de um sistema que estava longe de ser ideal. Era a action painting (pintura ação ou expressionismo abstrato) que desagregava a imagem para extrair sensações imediatas e concretas. Usava o dripping (gotejamento) e pintava dentro da tela para dela participar. Dizia ele que, antes da ação não havia nada. Reivindicava a liberdade em relação à lógica, preparação para o imprevisto, liberdade para encontrar seu própio ritmo. Juntamente com o jazz – música sem projeto, dissonante, que se compõe enquanto é tocada, buscaram romper os esquemas estéticos tradicionais. Foi o tempo que Faulkner chamou de som e fúria. Explicitaram o dilema da sociedade americana, orgulhosa de sua ordem e produtividade de belas formas de automóveis e eletrodomésticos.
A arte, no delicado roteiro do filme, interveio na questão do feminino, na entrega dolorosa do ser para o Outro. No filme, a mulheres se identificam ao um objeto da cadeia significante dos gadjets masculinos. A maior realização daquelas mulheres fica diretamente relacionada à capacidade de servir ao marido. Muitas delas, devastadas, desagregadas das saídas possíveis às suas vidas, foram iluminadas pela abertura da mente proporcionada pelo encontro com as aulas de história da arte.
No filme, chamam a atenção duas mulheres que têm destinos diferentes: a mais reacionária tem suas certezas abaladas busca seguir um novo caminho e rompe com a família em prol de seu desejo; a mais promissora, uma possível profissional de sucesso, escolhe ser uma tradicional dona-de-casa. O que diferencia essas duas? A possibilidade de escolha, de decisão sobre o seu caminho, e não simplesmente repetir.
Entretanto, no que concerne a amar, todas são laçadas pela rede. Amar é verbo feminino. As palavras tocam a fantasia feminina na eterna busca do tesouro maior: o desejo.

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