domingo, 10 de outubro de 2010

Muitos personagens trágicos nas novelas atuais.


[Quadro: Angústia, Salvador Dali]
Hoje, no Globo, falava-se sobre a busca dos autores pela tragédia nas novelas. Elas são fundamentais e proporcionam dor e alívio ao espectador. Desde a Grécia, elas trazem alívio ao sofrimento humano, por mais paradoxal que possa parecer. A tragédia, na palavra de Lacan, se encontra na raiz da experiência analítica como testemunha sua palavra chave, a palavra pivô, catarse, a catharsis aristotélica. Para os males humanos, Freud (1906) determina apenas um desejo: sarar, livrar-se de seu estado. O remédio é eliminar a inibição por meio do jogo da fantasia. A catarse visa à descarga, descarga em ato, ou até mesmo descarga motora, de uma emoção, um traumatismo capaz de deixar o sujeito em suspenso, e isso enquanto um acordo não for encontrado. Assim, a meta da tragédia é, no texto lacaniano, a catarse, a purgação das pathemata (aflições do corpo e da alma), das paixões, do temor e da piedade. Freud reserva, no texto Personagens psicopáticos no palco , ao espectador do jogo dramático, ainda que adulto, o lugar de criança ao brincar, gratificando suas expectativas hesitantes de se igualar aos adultos. Cabe ao autor e ao ator introduzir o brinquedo ao assegurar a identificação do espectador com o herói da peça. O espectador pode vivenciar sua fantasia de um herói, mas sem riscos, dores, sofrimentos e graves tribulações, através da vida idealizada, teatralizada no palco. Os espectadores avalizam o autor da peça teatral, juntamente com os atores, a desfilar no palco seus dramas, suas dores, emoções e traumas, percebidos nessa circunstância como pura fruição de prazer. Mesmo aqueles a que tanto o sujeito resiste cotidianamente, ali, sob os holofotes, torna-se diversão. Como podem esses seres mágicos saberem tanto sobre os processo mentais da sociedade? É o Mal Estar freudiano fartamente consumido no banquete dos deuses, e deuses são autores e atores.

4 comentários:

  1. As identificações fazem com que as coisas fiquem tão interessantes.

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  2. Mais que tragédia é o dramático que o autor busca oferecer ao espectador, não te parece?
    Participar do drama da vida, liberar-se do que o quadro - muito bem escolhido - de Dali ilustra e, mais ainda, permitir, por momentos que seja, a retirada, por projeção, da frustração que lhe pesa às costas a impotência frente ao mal- aqui, como exemplo, a cena aplaudida de Tropa da Elite 2, em que o Cap. Nascimento surra, impiedosamente, o político corrupto.

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  3. Agradeço comentários tão pertinentes. Também entendo que a identificação favorece a catarse. Através dela os personagens atualizam os dramas dos espectadores e, ainda que por um fingimento, torna-se possível superar o mal estar da cultura. A impotência é o mal estar fundamental e, por algum momento, se resolve. É muito bom dar indiretamente uma surra no político corrupto.

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  4. Acredito ser fundamental nos depararmos com a tragédia. Ela é parte integrante da vida do ser humano. Ela nos faz mexer, remexer no tédio. Nos impulsiona para a vida!Nela a catarse acontece pois falamos, nos expomos...imprescindível para se viver. E viva o filme Tropa de Elite 2...Lavei minha alma na tragédia.

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