Lacan
(1960) propõe a dúvida: a arte imita o
que ela representa? Como imitação, a arte seria mais-que-real, é surreal.
Ele mesmo mostra que vai além de apenas imitar, pois quanto mais o objeto é presentificado, enquanto imitado, mais nos abre
ele a dimensão onde a ilusão se quebra e visa outra coisa. Faz surgir um
objeto lustral, purificador,
renovando sua dignidade, consertando a realidade.
A arte
moderna se diferencia por convocar o espectador à incômoda invasão no interior
do artista, desconhecido e imprevisível, que não é dado facilmente e exige um
esforço a mais. A conhecida realidade não é fotografada pelo discurso do belo,
mas envolve o sensório submetido ao imaginário do pintor explicitado por meio
de sua re-criação estética. Lacan (1960) nos conduz a analisar o mistério sobre
Cézzane e suas maçãs, a repetição do tema, aprimorando sua relação com o real,
apontando para a permanente renovação guiada pela imaginação.
Eu
proponho que olhemos a Homem Amarelo, de Anita Malfatti, como o brasileiro
legítimo, tal qual Macunaíma: tropical, corajoso, multifacetado e polêmico. Neles, aperfeiçoávamos nossa relação com nós mesmos, com o mundo, com o real, gigantizado como Abaporu.
Quantas estruturas foram balançadas?
Quantas sementes lançadas?
Quanta certeza caída por terra para dar lugar ao novo?
Quantas sementes lançadas?
Quanta certeza caída por terra para dar lugar ao novo?
A Semana de Arte Moderna parece menor sob a ótica de fevereiro de 2012,
hoje representada por idosas telas e heróis empoeirados. Poucos tributos a eles, homenagens reduzidas a
lembranças de museus, e reconhecimento limitado.
Até nossos dias, com tanta modernidade, ainda se torce o nariz ao diferente, àquilo que a estética determina que não é o belo sob sua tradicional vestimenta.
Para muitos (e me incluo), não foi apenas um movimento, mas “O” movimento que disseminou tantos outros,
que libertou nossa inspiração, que nos livrou da obediência ao pai europeu,
tingindo de verde-amarelo nossas telas.
Nossa metamorfose.
Nossa metamorfose.
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