sábado, 19 de junho de 2010

Por que será que o deus do amor é uma criança?


Imagina-se o amor como um afeto completo, onde os corpos e as mentes se entrelaçam e transformam os amantes em um par uníssono, perfeito. Os contos de fadas perseguem, mesmo hoje, até os mais experientes. Fora desse ideal, a relação adquire outros nomes, de menor dignidade na hierarquia do desejo, como paixão, tesão etc. Permanecer nesse limbo fica menos pesado do que abrir as portas ao amor e arcar com o seu preço. Talvez por isso haja tanto medo de vivenciar o amor.
A responsabilidade atribuída ao amor leva à impossibilidade de ser auto-sustentável.
Amor é parte de uma relação entre duas pessoas. E uma relação admite múltiplos sentimentos em sua sinuosa trajetória. Alguns indesejáveis comparecem na relação a dois: ódio, rancor, inveja, ciúmes. Precisam ser admitidos e compreendidos para viabilizarem o dia a dia. O evitamento de vivenciá-los somente amplia seu peso e traz culpa, esse mal que fica debaixo do tapete. Perceber defeitos e imperfeições, cometer erros, não é deixar de amar.
A busca da perfeição afasta o amor, mas a presença do desejo é a divisa do terreno do amor. Amor é imperfeição.
Por outro lado, nessa lógica, esconder o fracasso amoroso, o des-amor, permanecer numa relação que não traz mais prazer, é condenar a si e ao parceiro a uma prisão domiciliar. Muitas culpas são pagas com essa penalização.
Eros brinca com suas flechadas e nós, muitas vezes, brincamos de amar.
Imagem (Jovem defendendo-se de Eros - Bouguereau: 1825–1905)

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